Fátima Trinchão
Poesias, Contos, Crônicas
Textos
O RACISMO NOSSO DE CADA DIA

      Chamou-nos a atenção peça publicitária divulgada pela imprensa, intitulada Teste de Imagem, onde ilustradas nas mesmas poses e posições, lugares e vestimentas, brancos e pretos, igualmente fotografados em duas versões, foram interpretados de maneira adversa. Assim como, peça veiculada nas diversas mídias de abrangência nacional, quando pessoas de nível universitário, especialistas, ao verem as imagens veiculadas em aparelhos de televisão com pessoas pretas e brancas tiveram reações totalmente antagônicas para uma mesma situação apresentada. O branco de paletó é ó executivo, enquanto que o negro é o segurança, a mulher branca que grafita é uma artista, enquanto que a mulher negra que executa uma obra de arte é considerada, pichadora; o branco que, vestido com roupa esportiva, malha, e o negro com a mesma roupa é interpretado como alguém que foge por ter feito algo de errado. Na vida real, pretos e pretas desta cidade sabem o que é isto. Ao adentrarmos em um shopping ou lojas da cidade somos continuamente seguidos por um segurança que atentamente nos observa e não deixa de lado o seu aparelho comunicador, para anunciar aos outros os nossos passos; ao andarmos nas ruas e avenidas desta cidade, percebemos que lamentavelmente, a senhora que vai ao nosso lado ou em nossa frente, abraça-se mais intensamente à sua bolsa, ela e a bolsa, em dado momento são uma só, pois afinal, dentro da concepção dessas pessoas, todos nós somos suspeitos. O racismo mata! Triste sociedade esta nossa, em que somos julgados pela cor da pele, antes de sermos respeitados pelo que somos, numa clara exposição de conceitos prévios. A provocação acima descrita, foi de bom alvitre e veio em boa hora. Faz-se necessário que essas mazelas sejam expostas e discutidas, para que possamos igualmente, curá-las. Precisamos quebrar o mito idealizado da democracia racial no Brasil. Ao raiar o dia 13 de maio de 1888 amanheceram os brasileiros escravizados, sem eira nem beira. Sem lar, sem refúgio, sem empregos. Relegados a própria sorte, até os dias de hoje sofremos as consequências danosas de uma libertação sem planejamentos, nem indenizações. Os pretos daquele momento da história foram jogados ao mundo! Dados do IBGE apontam o Brasil como a maior nação negra do mundo, depois do Continente africano, mas, no Brasil não há democracia racial. Em sua maioria o preto é o pobre, que também é o marginalizado. O preto é o descamisado, que morre nas filas do SUS, o preto é o desprovido de remédios, de comida, de educação, de esperança. No Brasil, não somos todos iguais. Somos diferentes, ou quando muito, somos brasileiros de segunda classe, apesar de terem os nossos ancestrais, construído este país, lavrado com o seu sangue a terra cultivada para o plantio dos cafés, e arado com a força dos seus braços os campos, nos quais semearam a cana de açúcar, e empaparam com o seu suor as plantações de mandioca, de cacau, a construção das grandes vilas que evoluíram cidades grandes, metrópoles detentoras de grandes poderes, vide o estado de São Paulo. Quanto sangue! Quanto sangue de nossa gente regou o chão desta pátria, Brasil. As estatísticas oficiais, declaram que, no maior percentual de pessoas em estado de pobreza e de indigência, encontram-se os pretos. Entre as pessoas que buscam os precários atendimentos em hospitais, upas e serviços de saúde pública, encontram-se os pretos; os que mais morrem, vitimados pela violência, são as pessoas pretas. Não será tão somente através das cotas em universidades, em concursos públicos, em patrocínios a blocos carnavalescos... que a sociedade nos restituirá o que nos foi tirado e sim, através de políticas públicas que atendam verdadeiramente a totalidade, não somente do povo preto, mas também, de todos os que almejam inclusão. Educação pública de verdade. Saúde pública de verdade. Moradia decente, ruas calçadas, água, luz e saneamento: empregos dignos para que dignamente possamos crescer e a partir daí, pensarmos na possibilidade de efetivamente sermos iguais. Não pode haver igualdade, em um país que tem aproximadamente mais de sessenta por cento de pobres e pretos, na mais absoluta pobreza. Não podemos mais fechar os olhos para a realidade e tampar o sol com a peneira. É vergonhoso calarmos diante desse estado de coisas. É preciso que as mudanças aconteçam. E para que estas ocorram, é preciso iniciativa e coragem. Os bons resultados, uma vez obtidos, afetarão a todos. Pretos, brancos, índios, pardos, amarelos...ninguém está só nesta caminhada que é a vida e não podemos olhar para o lado e permitir que o outro caia ou tropece sem dar-lhe a mão para que se levante ou mesmo, quem sabe, impedir-lhe a queda. Devemos caminhar juntos e iguais. Ao nascermos não somos melhores nem piores, nem bons nem maus, somos apenas. No decorrer de nossa jornada a sociedade nos moldará de acordo com as suas conveniências, e por incrível que pareça, todos somos responsáveis por cada um, e é importante que sejamos pessoas conscientes e íntegras para que possamos como cidadãos, utilizar-nos de consciência crítica tal, que nos permita ver o outro não com o olhar que ele deseja que o vejamos, uma hegemônica superioridade. Em verdade, não podemos continuar crendo em uma mentira, quando a verdade está à frente de nossos olhos. Criaturas originárias do mesmo Poder Criador, devemos caminhar igualmente juntos e em paz na construção de um mundo novo. Afinal, é preciso cultivar o nosso jardim.
Fátima Trinchão
Enviado por Fátima Trinchão em 19/11/2016
Alterado em 29/10/2019
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